20 de janeiro de 2008

Filosofia inútil

Sempre me espanto quando me deparo com alguém inundado de certezas.
Eu, que nunca tenho certeza de nada, acabo me perguntando se sou mais certa ou menos certa.
Sou só perguntas e nenhuma resposta.
Quando me deparo com algum olhar que transmite despudoradamente suas convicções, desconfio de pronto.
Olho de soslaio tentando decifrar esse mistério intergaláctico, de imensas proporções, que é o encontro com alguém que realizou a grande descoberta, que atravessou a ponte e de lá me acena, impávido e colosso.
Eu, por minha vez, nunca sei se tomei a decisão correta. Não sei nem ao menos o que é uma decisão correta. Sei somente que optei por uma entre milhares de possíveis decisões.
Posso ir por aqui, mas poderia muito bem ter ido por ali.
Gosto hoje e desgosto amanhã.
Vou, mas poderia muito bem ter permanecido.
As alternativas se sucedem, tudo flui e num átimo tudo já não é.
Como poderia eu definir algo como verdade, se eu mesma, nesta tão diminuta existência, já deixei tantas certezas e modos de ser definitivamente para trás, me desconhecendo e me negando do tanto que fui, disse e pensei?
Resta sempre um vácuo, uma interrogação, do momento que poderia ter sido e não foi, do momento que ainda poderá ser, do momento onde se é tudo, menos si mesma.
E em qual momento da minha existência, dentre todas as infinitas manifestações do meu ser, fui eu mesma?
Equívocos, inadequações, estranhamento.
E, entre meu espanto diante daquele ser inundado de certezas e a minha completa incerteza diante das infinitas possibilidades que definem uma vida, resta a sensação estranha da total inutilidade dessa minha filosofia.