18 de novembro de 2008


É preciso colocar os pontos nos is. É preciso se situar, rotineiramente.
É preciso saber em que ponto da viagem se está. É preciso intuir nossos interlocutores.
Porque, no mais das vezes, os que nos cercam são apenas fantasmas que nos acompanham, nada mais do que isto. Sombras que já não dizem mais a que vieram.
Tornaram-se intraduzíveis. Passaram de aconchego a enigma.
Círculo e quadratura. Antagônicos.
São dispensáveis. Seu tempo esgotou-se.
Passou. Extinguiu.
Só Carolina não viu.
Portanto, é urgente e premente que fiquemos atentos.
Ao gesto, ao riso, a todos os sinais que tragam significados reais.
A vida é preciosa, curta, sagrada.
Nela não podem persistir equívocos que vamos rolando indefinidamente pelos dias afora.
Nela só podem consistir magia e mistério.
Sentimentos palpáveis, intensos.
Nela não podem residir as indecisões, as indefinições de toda ordem.
Nenhum minuto a desperdiçar com o que não tem mais ressonância.
Com o que nos corróis sem que o saibamos.
Com o que nos destrói na surdina.
A vida suplica por assertividade.
A vida insiste na urgência.
É preciso pontuar a vida. Olhar fundo nossos interlocutores.

7 de setembro de 2008

Simples assim


Mestre não é quem ensina,
Mas quem de repente aprende
Guimarães Rosa


Simples assim.
É urgente este entendimento; a sensação de ter aprendido no vão dos dias e efetuar, finalmente, a travessia de aluno a mestre.
Finalizar o ensaio prolongado na vida e integrar o conhecimento de tal forma que não mais se
distinga teoria e prática.
Entender-se mestre, sabiamente, evitando palavrear ao léu, vomitando pequenas e suspeitas verdades.
Ao contrário, silenciar no pleno aprendizado, compreendendo toda a série infinita das nossas limitações e ilusões a respeito de tudo.
E, de repente, o que fica é a beleza do cotidiano, das pequenas coisas belas que nos rodeiam diariamente, empurrando-nos ao encontro da tranquilidade daqueles que reconheceram a impossibilidade de conhecer um pouco além de uma gota num oceano de mistérios.
E, de repente, optamos pela realidade e pelo amor dionísico à vida, à terra, à chuva
, ao vento e ao pó ao qual voltaremos um dia.
E, de repente, tudo se acalma, sem o cansaço das coisas impossíveis, na serenidade dos mortais que somos.
De repente. Simples assim.

silêncio

Se conseguíssemos nos calar com mais constância, talvez as respostas pelas quais tanto ansiamos pudessem se fazer ouvir.
Assim como a palavra é um meio absolutamente pobre para exprimir aquilo que vai no mais íntimo de cada um de nós, um ambiente perturbado por um estímulo exagerado de sons nos impede de experimentar outro tipo de percepção da realidade que não seja esta que percebemos rotineiramente.
Passar por tal tipo de experiência vem se tornando cada vez mais raro.
Estamos acorrentados de maneira trágica a massacrantes estímulos visuais e sonoros dessa vida pós-moderna.
Estamos condenados ao movimento inútil em busca de conquistas vãs.
Nessa corrida sem vencedores só chegaremos mais fatigados a nosso fim comum.
Contingência é a palavra que define a vida humana. Nada conhecemos do amanhã.
Por que acumular tantos fardos?
Por que não um caminhar mais leve, mais lento, mais silencioso?

"Faltam pessoas
Que em silêncio
Possam realizar
Aquilo que não tem futuro."

17 de junho de 2008

MERGULHO PROFUNDO

Do que eu preciso, acima de tudo, é poder existir à minha maneira.
E essa maneira é assim: extrema solidão!
Portanto, eu clamo e reclamo:
Me deixem existir ao meu modo e com extrema urgência!
Permitam mergulhos profundos
Para lá onde estou à espera de mim mesma.

E nesse lugar sobreviverei
Alimentada por letras e sons.

10 de fevereiro de 2008

NÃO GOSTO DE FILÓSOFOS QUE CONSOLAM

Não gosto de filósofos que consolam.
Prefiro a lucidez. dos que me tiram o colo, o embalo.
Que me alertam que o mundo não é um berçário.
Que empurram minha cabeça prá baixo d'água até que eu perca o fôlego.
Que esmurram meu rosto com suas palavras duras.
Petrifico. Fortaleço.
Expulso, ainda que lentamente, o medo primordial para um lugar ermo
Tornando-me livre diante da vida.
Eu quero é realidade.

20 de janeiro de 2008

Filosofia inútil

Sempre me espanto quando me deparo com alguém inundado de certezas.
Eu, que nunca tenho certeza de nada, acabo me perguntando se sou mais certa ou menos certa.
Sou só perguntas e nenhuma resposta.
Quando me deparo com algum olhar que transmite despudoradamente suas convicções, desconfio de pronto.
Olho de soslaio tentando decifrar esse mistério intergaláctico, de imensas proporções, que é o encontro com alguém que realizou a grande descoberta, que atravessou a ponte e de lá me acena, impávido e colosso.
Eu, por minha vez, nunca sei se tomei a decisão correta. Não sei nem ao menos o que é uma decisão correta. Sei somente que optei por uma entre milhares de possíveis decisões.
Posso ir por aqui, mas poderia muito bem ter ido por ali.
Gosto hoje e desgosto amanhã.
Vou, mas poderia muito bem ter permanecido.
As alternativas se sucedem, tudo flui e num átimo tudo já não é.
Como poderia eu definir algo como verdade, se eu mesma, nesta tão diminuta existência, já deixei tantas certezas e modos de ser definitivamente para trás, me desconhecendo e me negando do tanto que fui, disse e pensei?
Resta sempre um vácuo, uma interrogação, do momento que poderia ter sido e não foi, do momento que ainda poderá ser, do momento onde se é tudo, menos si mesma.
E em qual momento da minha existência, dentre todas as infinitas manifestações do meu ser, fui eu mesma?
Equívocos, inadequações, estranhamento.
E, entre meu espanto diante daquele ser inundado de certezas e a minha completa incerteza diante das infinitas possibilidades que definem uma vida, resta a sensação estranha da total inutilidade dessa minha filosofia.